segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Guerra e insetos

No século 5 antes de Cristoum médico grego, Ctésias, ficou intrigado ao conhecer um novo, raro e caríssimo veneno. Quando começou a analisar o produto, nem sequer sabia se era proveniente do reino mineral, vegetal ou animal. O veneno havia entrado na Grécia como um presente, oferecido por um rei indiano. Acreditava-se que a misteriosa poção era produzida por um minúsculo pássaro, de cor alaranjada. E, para aguçar ainda mais as curiosidades, essa ave jamais havia sido vista ou capturada. Havia apenas a certeza de que uma pequena gota do produto poderia, em instantes, matar um homem.

Foi só no século 20 que entomologistas descobriram a procedência da poderosa toxina. Quem produzia o veneno era um besouro, menor do que uma uva e com muitas espécies originárias das florestas úmidas da Índia. O animal recebeu o nome científico de Paederus. Seu veneno foi classificado como mais poderoso do que o produzido pela viúva-negra, 15 vezes mais tóxico que o veneno das serpentes. Mais assustador, para nós humanos, é o fato de que algumas espécies desse inseto, ao contrário de aranhas e cobras, são capazes de voar.

Em estatística feita por Nigel E. Stork, entomologista do British Museum, de 1,82 milhão de espécies de animais e plantas oficialmente nomeadas, 57% são insetos. Há certas grandezas nesse fascinante mundo de minúsculas criaturas, como há, por outro lado, determinadas aproximações entre o ser humano e essa multidão de insetos, que são, ainda hoje, praticamente desconhecidas da maior parte das pessoas.

A história das relações entre o homem e insetos é milenar, rica em detalhes e aterrorizante em muitas de suas ramificações. Do uso desses animais como fonte de alimentação e entretenimento aos milhões investidos anualmente no controle de pragas agrícolas, o homem tem se interessado, por séculos, pelos insetos. Algumas dessas relações são estarrecedoras.

Coreia, 1952. No amanhecer do dia 27 de março um estranho objeto vermelho é lançado de um avião sobre a região de Liaoyang. Um morador que presencia a cena, assustado, sai de sua casa para verificar de que se trata. Nada encontrando nas proximidades da queda, mesmo inquieto desiste da busca e retorna à sua residência. Ao entrar, olha novamente para fora e fica perplexo com o que vê: do lado externo de uma das janelas centenas de insetos movimentam-se em alvoroço. Essa narrativa é absolutamente real, apesar de lembrar os melhores filmes de Alfred Hitchcock. Faz parte de um relatório feito por uma comissão científica internacional organizada com a finalidade de investigar fatos relativos à guerra biológica, durante a Guerra da Coreia (1950-1953).
Leia a continuação desta matéria na Scientific American Brasil:   Minúsculos e Poderosos - A transformação de insetos em armas de guerra por Nelson Aprobato Filho

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